quarta-feira, 24 de março de 2010

Brasília e a crise de meia-idade



Brasília está prestes a completar 50 anos. Isso está longe de ser novidade dado o alarde com a (hipotética, nada mais) vinda de astros internacionais da música para a comemoração e a atenção voltada à cidade por causa dos recentes escândalos ético/político/panetônicos. De qualquer forma, a ocasião traz à tona questões há muito postergadas tanto pelos cidadãos quanto pelas autoridades competentes; uma delas é a quase iminente perda do título de “Patrimônio cultural da Humanidade” cedido pela UNESCO.

Desnecessário falar dos recentes projetos pseudo-faraônicos de nosso querido (agora ex) governador e do genial, visionário, fantástico e reluzente (adjetivos acrescentados por questão de ego) senhor Niemeyer em função da vindoura Copa do Mundo de 2014, né? Já deixei minha opinião sobre isso bem clara em outro post (ou seja, soltei os cachorros); a real ameaça ao tombamento são as constantes tentativas de modificar o plano urbanístico original da cidade.

Dê uma volta por Brasília, não será difícil ver os “puxadinhos” nas áreas comerciais, as tentativas de burlar o limite de andares nos prédios ou o descaso com os monumentos já tombados; todas essas “desimportâncias”, a seu modo, descaracterizando pouco a pouco o plano original.

Já ouvi várias pessoas reclamando que, em Brasília, todas as quadras são iguais e que tamanho controle chega a ser insuportável para quem vem de fora e sei que, para quem não mora aqui, tais regras parecem um tanto ditatoriais, repressivas e excessivamente simétricas (ou que, pelo menos, tencionam uma simetria excessiva) já que – verdade seja dita – cidades são “bichos” selvagens; se adaptam e crescem de acordo com o ambiente e as necessidades de seus cidadãos.

-Isso! E ali vai ficar o shopping e depois o centro comercial e...
- Se atenha ao plano, Juscelino...

Brasília se encontra no meio deste conflito: o de continuar com seu status de Patrimônio Cultural (e, com isso, manter inalterado seu plano arquitetônico e urbanístico) ou de ceder aos seus “instintos” básicos e se desenvolver/expandir como qualquer outra cidade no mundo; cada opção, com seus respectivos prós e contras. Para decidir essa questão (entre outras) a reunião anual do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO será realizada, este ano, em Brasília, onde a recente situação da capital será analisada por especialistas em tombamento de todo o mundo.

Há quem veja, nessa reunião, a oportunidade perfeita para cobrar medidas que defendam o patrimônio urbano e imaterial (sim, também o temos!) dos crescentes interesses privados e há quem simplesmente pague pra ver. E, sinceramente? Acho que me incluo no segundo grupo. Explico (antes de levar uma pedrada ao algo do tipo): Nos últimos anos vi tantas mudanças na cidade e projetos (alguns já iniciados, inclusive) que, sinceramente, temo que já tenhamos perdido o já dito tombamento patrimonial (o que, certamente, seria a festa de muitos), mas quem sabe, né? Só nos resta esperar essa reunião e, posteriormente, suas repercussões.

Hasta!

3 comentários:

  1. nossa, eu realmnente não estava sabendo dessa discussão "brasília libera geral versus brasília imaculada". é complicado, porque a cidade precisa nutrir as necessidades de quem mora nela, mas seria uma pena ocorrerem tantas mudanças drásticas. é uma questão de bom senso, e é justamente isso o que mais falta na mão das pessoas poderosas que podem decidir algo do tipo.

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  2. Sinceramente, eu acho que essa evolução (ou retrocesso, dependendo do ponto de vista) é inevitável. Natural que as cidades cresçam e se modifiquem de acordo com que a população necessita. Mas isso não justifica projetos que literalmente acabem com todos os patrimônios da cidade, coisa que acontece bastante aqui em Manaus. Acho que ao menos isso dá pra ser mais "controlado" se os responsáveis forem competentes...

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  3. Olá Pedro!Então, em moro em Brasília há pouco tempo,mas confesso que me apaixonei pela forma como a cidade é organizada.
    Acredito que mantê-la com suas regras é super importante e fiscalizar as obras também. Brasília é modelo que deveria ser seguido.
    ;D Ah e vou comemorar o niver de 50 anos com muita empolgação, porque estes escândalos não mudaram a minha opinião sobre a Capital do Brasil. ;D

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