sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Corações partidos tem cheiro? Vilania tem...



Alguns dias atrás ganhei de um tio um vidro de perfume (o que é meio estranho dado que, apesar de gostar muito, não tenho o hábito de me perfumar); um perfume delicioso, diga-se de passagem, não fosse pelo fato – e nessas horas amaldiçoo minha boa memória – de que, anos atrás, fosse o mesmo perfume que ganhei de aniversário de um quase-namoro que tive. Na época cheguei a ouvir de um amigo a brincadeira profética de que, diante de tal presente, a paixão duraria a medida exata do líquido no frasco. Pois é: durou menos (por motivos que me abstenho de explicitar aqui), mas sua lembrança continuou guardada junto com a fragrância, as razões e tudo o mais na minha cabeça.

E por que retomar essa história, anos depois? – você deve estar se perguntando. É que diante deste (mais uma vez) presente foi inevitável me perguntar como anda, hoje, aquele quase namoro: se ele mudou, o que andará fazendo, se encontrou alguém que correspondeu devidamente os sentimentos dele, esse tipo de coisa. Acho que deu pra notar que saí desse relacionamento me sentindo um tanto culpado, não? Faz parte daquela regra/paradoxo: você passa a vida procurando por alguém que goste de você como é e – quando encontra – não consegue dedicar o mesmo afeto a essa pessoa. Você, então, sai do relacionamento se sentindo um crápula... o vilão da história.

Certa vez outro amigo me disse que temos a necessidade instintiva de antagonizar alguém em nossas vidas; de criar um demônio, um “vilão” para nos motivar a superar a fossa que a inércia que, às vezes, nos acometem e seguir em frente sem – nunca – descer do salto (ok, essa parte de “descer do salto” faz parte da minha interpretação). Confesso que já tive meus “vilões” pessoais (quase todos, infelizmente, sem aquele charme particular dos vilões de filmes antigos), pessoas que me despertaram antipatia automática ou que transformaram, gradualmente, meu amor em ódio. Mas não seria, o ódio, uma variante do amor? Se o desprezo é, de fato, o pior sentimento (ou a falta dele) que se pode reservar a alguém podemos deduzir que quem ainda se dá ao trabalho de alimentar ódio por alguém provavelmente também se disporá a, eventualmente, transformar esse ódio em amor, certo?

Isso posto, será que realmente fui o vilão dessa pessoa (ou ainda o sou)? Se sim, por quanto tempo terei sido o corvo desse alguém? Isso realmente faz diferença agora?

Acho que não... o perfume já passou.

Inté!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Porque às vezes... às vezes...



(a gente simplesmente se sente assim)

Inté!

sábado, 6 de agosto de 2011

Do que se impõe (direitos humanos, por exemplo)...



Ai credo, é o fim do mundo! Na minha época não acontecia isso! – exclama minha avó diante do noticiário na TV.

Claro que acontecia, coisas assim acontecem desde que o mundo é mundo. – respondo eu, todo trabalhado na poker face.

É, mas pelo menos a gente não ficava sabendo! – retorna minha avó.

Relevada a idade de minha avó (e, consequentemente, sua visão de mundo), a situação descrita me têm feito pensar: Não sei se é porque, agora, ando mais sintonizado nesse tipo de notícia (afinal, como todos sabemos, nossa visão de mundo muda de acordo com nossos interesses), mas – de fato – não me lembro de ver, nos noticiários, notícias como as que venho acompanhando atualmente. Todos os dias pipocam novos casos de crimes de ódio pelo país; todos os dias ouço casos de pessoas que morrem/são atacadas sem provocação, todos os dias ouço acusações de privilégios e tentativas de instauração de uma dita “ditadura” e o pior: todos os dias me acostumo mais um pouco com esse cenário.

A última foi a criação do dia do orgulho heterossexual como resposta à série de “privilégios” concedidos à população LGBTs e... numa boa? Não vou enumerar os contra-argumentos aqui; pessoas mais articuladas já o fazem todos os dias e são sumariamente ignoradas (o que é uma pena, dado que algumas delas são brilhantes). Me limito a dizer que estou cansado dessa história. Cansado de tentar entender o porquê de tanta histeria, da aparente necessidade de pintar uma batalha, uma dicotomia desnecessária; é tão importante assim aos parlamentares/formadores de opinião ter a quem hostilizar a ponto de usar isso como parâmetro de “liberdade de expressão”? Porque, pessoalmente, é o que parece.

Não quero escolher “lados” (embora, por ser quem sou, já seja automaticamente pintado como o capeta), não quero devolver a opressão na mesma moeda, não quero ser Bruno. Quero viver minha vidinha como qualquer outro cidadão livre nesse planeta. Levando em conta que sou humano, adulto, pago meus impostos e ajo como qualquer outra pessoa dentro dessa sociedade, acho que tenho esse direito, não?

Ou serei realmente obrigado a pegar em armas para defender minha liberdade de existência e tudo o que minha família me ensinou sobre não mentir (sobre quem eu sou, inclusive)? Engraçado que, ao pensar em todas as discussões levantadas – sobretudo na supervalorização da palavra “ditadura” – me veio à mente a relativa tranquilidade e sorte que atribuíam à minha geração de não ter vivido os anos de chumbo da repressão militar, dizendo que jamais saberíamos o peso de toda aquela vigilância e insegurança... será?

Será por isso que, quando criança, me diziam tanto para aproveitar essa época da vida?

Inté!