domingo, 13 de dezembro de 2009

A civilidade e o condicionamento

Ontem fui na formatura (no Jardim de Infância) do meu irmãozinho; aquela coisa bem festa escolar infantil: crianças fazendo pose de adultos, adultos tendo ataques de fofura com as crianças, coral, visita do Papai Noel, valsa e até uma improvisação de boite (com direito a um remix de “Florentina de Jesus”). Tudo bem dentro dos conformes, pra agradar aos pais e familiares. Mas, durante a hora cívica (sim, ela voltou), não pude deixar de notar a letra do - relativamente recentemente composto - hino do município de Valparaíso de Goiás (onde, aliás, eu meio que moro... longa história). Segue a pérola...

No Centro-Oeste uma estrela já brilhou,
Num paraíso o vale ela transformou,
Com fé em Deus todos nós somos irmãos,
Valparaíso é teu o nosso coração.

No azul do céu o teu pavilhão desfralda,
Teu verde lembra a cor da esmeralda,
Com graça e fibra o povo de Goiás,
Rumo ao futuro, ao progresso e à paz.

Teu povo é desse chão verde-amarelo,
Orgulho de um país tão grande e belo,
O sol cativo dá ao vale a bonança,
E abre as portas a um amanhã de esperança.

Tua bandeira é meu manto sagrado,
Terra vermelha, o meu torrão amado,
Valparaíso tu és forte, varonil,
Irmão da capital do meu Brasil.

(letra de Esmael Lopes)


Calma, não vou fazer uma crítica musical ou coisa do gênero (além do meu conhecimento musical ser ridículo, isso é um hino municipal), mas achei engraçado ao ver numa composição tão recente (e cívica), valores tão parciais, como o uso da palavra “varonil” (que é relativo a “varão”, ou seja, “homem”) como sinônimo de força ou a menção religiosa - mesmo que mínima (pode me chamar de chato, “cri-cri” ou wathever, mas ainda sou radicalmente contra qualquer envolvimento entre Estado e religião). Enfim, criticas à parte - até porque elas são inúteis, visto que esses detalhes são apenas reflexos da nossa cultura (infelizmente) -, o que realmente me chamou a atenção era que eu parecia ser o único, em todo o recinto, a prestar atenção à letra; estavam lá pais e educadores e ninguém parecia se importar com isso (ou em como as crianças poderiam – caso o fizessem – absorver isso tudo).

Lembro que – na antiga 3ª série – certa vez a professora nos fez ler o Hino Nacional e o explicou verso por verso para que, além de respeitá-lo, também o compreendêssemos (e, cara, como eles eram otimistas!) e isso fez bem... Pelo menos da minha parte me fez notar que não dá pra você simplesmente seguir e/ou respeitar e/ou adorar algo (como os mais exaltados fazem) sem ter uma noção mínima de seu significado; do contrário se torna a simples repetição por repetição. Iconizar uma música (ou qualquer outra coisa) sem levar em conta a força de suas palavras é esvaziá-la, torná-la oca e reluzente e quebradiça como uma jarra de cristal ou uma bolha de sabão.

Estaria a consciência fora de moda ou é apenas outro reflexo infeliz da nossa cultura?



Hasta!

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