quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O preço (e o tempo) do afeto...

“A Apple oferece uma garantia de até dois anos porque aposta que, nesse meio tempo, vc já terá se apaixonado por outro IPod...”

“Tudo nesta loja está à venda, menos as pessoas... algumas, é claro!”

(coisas que ouvimos quando acompanhamos os amigos nas compras)

Certa vez vi o Bernard Stiegler afirmando num livro (infelizmente, seu ÚNICO trabalho traduzido pro português até hoje) que, além de nos encontrarmos numa sociedade hiperindustrial, essa mesma sociedade manipula a energia libidinal (os “quereres” num nível geral) das massas a fim de produzir e vender cada vez mais. Ok, até aí não há qualquer novidade, só que – como conseqüência dessa crescente manipulação – há uma insatisfação e um mal-estar generalizado já que, essa manipulação ocorre numa velocidade tão grande que não nos dá tempo de “fixar” algum afeto pelo objeto de desejo, transferindo-o constantemente a algo mais novo.

O que é colocado no livro como uma tendência da sociedade (prioritariamente de consumo) parece também estar se manifestando nas relações interpessoais dos indivíduos que compõem essa mesma sociedade... já notou?



Pense comigo: quantas amizades você criou e desfez no último ano? Quantas paixões (correspondidas ou não)? Quantos “eu te amo” foram proferidos (às vezes, a quem não merecia)? Quantas pessoas, a despeito das expectativas momentâneas, entraram e saíram da sua vida nesse período (e por quanto tempo elas permaneceram)?

É disso que estou falando. É fato que pessoas vêm e vão, mas ultimamente isso parece acontecer num ritmo tão desenfreado, tão alucinante que é impossível não se sentir perdido ou – como o próprio Stiegler afirmou – “frustrado” (confesso que às vezes eu mesmo me sinto).

Mas por que isso está acontecendo tanto? Por pura osmose ou os relacionamentos estão REALMENTE mudando de valor? Estamos realmente virando mercadorias? Quanto vale o seu afeto? E – principalmente – porque pareço sempre fazer a mesma pergunta???

(Juro que ainda vou entender)

Hasta!

2 comentários:

  1. Olha Pedro, obrigado por este post, super pertinente e me fez refletir sobre algumas situações. Frustrado. Essa palavra tem sido bastante comum ultimamente... Mas take easy, boy... Nem tudo está perdido, há outros que pensam como você e enxergam como você. Fé.

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  2. Mais que sociedade hiperindustrial, é uma sociedade de hiperconsumo instigado por um capitalismo ganancioso e sem escrúpulos. Tal motivação só poderia dar em algo completamente inumano. Desumano, até.

    Frustração é o grande dado adquirido neste modo de viver. Pois não se procura viver as relações (no caso por ti apresentado) mas o que todos procuram é TER relações.
    Por alguma razão no vocabulário português há distinção entre o SER e o ESTAR.

    Abraço

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