sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Quem fica com a cauda?

Notícia velha, notícia passada, mas – nessa última temporada em SP – não teve como não pensar a respeito, então abro aqui um pequeno espaço pra reflexão, ok? (e, não, não é sobre como, súbita e inexplicavelmente, comecei a escrever de maneira injustificadamente formal, mas enfim...)

Como disse, estava em SP, andando com o @leonardoseville na Paulista, no dia da vitória presidencial de Dilma e – como é de se esperar – todos os militantes do PT tomaram a avenida, sendo necessário, inclusive, o fechamento de um trecho da avenida. Tudo muito bonito, tudo muito alegre, tudo muito comemorativo... e por que não seria? Não é assim ao final de qualquer disputa? Mas o que me chamou a atenção mesmo, foi ouvir de um trio elétrico em frente ao MASP, o locutor (posso chamá-lo assim? Era apenas um cara com um microfone em cima do trio) gritando a quem quisesse ouvir (e a quem não quisesse também) que a esperança venceu o medo, ao som de “♪ Xô, Satanás... ♫”.

Opa, peraí, como é?

Exatamente, caro leitor. De candidato da oposição (ou sei lá como se definem esses “lados da Força” ultimamente), José Serra foi promovido (?) a “Mal encarnado”, com direito a um mamulengo (um pouco mais bonito que o original) devidamente caracterizado com adesivos e bandeiras da Dilma, em sinal de derrota.

Ok, tudo bem que José Serra não seja um padrão de beleza a ser seguido, tampouco me inspire muita confiança (tal qual Dilma Rousseff), mas pintá-lo com dois chifrinhos e uma cauda pontuda também é um pouco exagerado, não? Digo, a mesma estratégia foi adotada por seus militantes pra difamar a concorrente, acusando-a de “assassina de criancinhas” e “terrorista”, entre outras alcunhas amabilíssimas durante a campanha. Confesso que seja normal, numa disputa, antagonizar seu adversário e que – talvez – esse hábito ganhe um pouco mais de força numa corrida eleitoral, dado o que está em jogo; mas acho que, como tudo o mais no mundo, desrespeito demais faz mal (não só à imagem dos desrespeitado como à credibilidade do desrespeitador também), ainda mais se levarmos em conta o poder que essas comparações de cunho religioso podem ter.

(Boo!)

“Religioso”... após dizer isso me veio à cabeça toda a manipulação maniqueísta destas últimas eleições, de como crenças e verdades (e, nisso, falo daquelas íntimas e espirituais) foram manipuladas em torno de interesses tão somente particulares, resultando numa (mesmo que em escala absurdamente menor) “Guerra Santa” e na – até o momento – corrida eleitoral mais absurda da história brasileira.

Pensando bem... por que eu ainda me surpreendo, né?

(ainda bem que acabou)

Hasta!

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