terça-feira, 28 de setembro de 2010

Memórias de caderno e óculos...

(ou, se preferir, "Semana de férias")















Exatamente por sua transitoriedade, possui um valor único. Perdido, perdido, perdido; tento chegar ao Museu do Giramundo e – pela rabagésima vez – erro o caminho e vou parar nos limites de BH, o que me leva à questão: será minha tendência natural ser atraído por fronteiras ou simplesmente gosto de seguir na contra-mão? Ao jantar um X-bacon numa padaria qualquer, perto do Palácio das Artes, olho pela janela e vejo o letreiro neon, do outro lado da rua, filtrado pelas folhas sombrias de uma árvore, em frente à janela; subitamente lembrei das luzes de uma cidade qualquer, distante, em Brasília. Dessas que, dada a geografia do planalto central, você vê de longe: um mar de luzinhas brancas de postes. Um movimento de cabeça depois, o encanto se desfaz; mas a pequena fagulha de saudade permanece, imóvel nos instantes seguintes. Ah, o ser humano... Não se trata de conhecer lugares, mas experiências.





















“Do pó vieste e ao pó retornarás”... Mais uma frase-feita. Mais uma verdade.

Brasília, que saudade!

BH e São Paulo, que saudades maiores ainda!

Estabelecida a distância, a saudade é uma reação automática e (aparentemente) natural...

Será?

O Palácio dos Arcos

O Palácio dos Arcos
tem estórias de valor
que não quero aqui contar
Vou contar a estória do soldado carajá.

Era uma vez em Goiás
um soldado, carajá civilizado.
Sabia ler e contar.
Estimado no quartel.
Tinha boa disciplina,
divisas de furriel.

Um dia... era no mês de outubro.
A cidade estava baça
de fumaça das queimadas.
Fazia um calor medonho.
O povo clamava chuva.

O soldado carajá
dava guarda no palácio
aquele dia.
De repente, ouviu um trovão surdo rolar
do lado da Santa Bárbara.
Rolou outro atrás do primeiro.
Levantou-se um pé-de-vento,
redemoinho.
Um cheiro forte de terra.
Um cheiro agreste de mato.
Um cheiro de aguada distante.
O soldado carajá,
ninguém sabe o que sentiu.

Acordou dentro de si
uma dura rebeldia.
Uma rude nostalgia.
O grito de sua raça.
Chamados de sua taba.
Aquela mudança de tempo
despertou os seus heredos.

Acordou seus atavismos.
Certo foi...

O bugrinho carajá,
de uma tribo muito mansa do Araguaia,
tinha vindo pequenino para Goiás.
Foi criado bem criado
numa casa de família.
Ninguém nunca contou
dondé que ele tinha vindo.
Era mesmo filho da família,
era igual aos meninos da cidade.

Andou na escola. Aprendeu leitura.
Subiu nos morros, apanhou pequi.
Nadou no rio, fisgou cascudo.
Pinchou pedra, quebrou vidraça.
Vendeu tabuleiro de bolo de arroz.
Jogou bete na rua.
Empinou arraia.
Lançou corsário.
Brigou na regra. Embolou no aloite.
Escreveu indecência nas paredes.
Cresceu. Se fez homem de bem.
Sentou praça na Polícia.
Vestiu fardão escuro, botão dourado,
daquele tempo.
Calçou bota reiúna-canguru legítima,
ringideira.
Botou correame, quepe, mochila,
cinturão, refle-baioneta.
Encostou fuzil no ombro.
Fazia sentinela. Dava ronda.
Rendia guarda, marchava, desfilava.
Era estimado no quartel.

Tinha boa disciplina,
divisas de furriel.
Um dia (era no mês de outubro)
andavam de noite fogaréus vermelhos
queimando os morros.
A cidade estava baça de fumaça
das queimadas.
Fazia um calor medonho.
O povo clamava chuva.

O soldado carajá dava guarda no palácio.
De repente, ouviu um trovão surdo rolar
do lado da Santa Bárbara.
Rolou outro atrás do primeiro.
Levantou-se um pé-de-vento,
redemoinho.
Um cheiro forte de terra.
Um cheiro agreste de mato.
Um cheiro de aguada distante.

O soldado carajá, sabe lá o que sentiu.
Acordou dentro de si
uma grande nostalgia.
Uma dura rebeldia.
O grito de sua raça.
Chamados de sua taba.
Aquela mudança de tempo
despertou os seus heredos.
Acordou seus atavismos.

Certo foi que o soldado carajá
(bugre civilizado, sabendo ler e contar)
Encostou sua comblém (era no tempo das combléns).
Descalçou a reiúna-canguru legítima, ringideira.
Baixou o quepe, correame,
mochila, refle-baioneta.
Sacou da túnica.
Desceu as calças e o mais que havia,
Saiu correndo pelas ruas.
Nu?
Vestido com seus atavismos.
Coberto com seus heredos.
Alcançou a Barreira do Norte
e sumiu-se no rumo do Araguaia...

Na poeira do bárbaro
atuado pelas forças cósmicas e ancestrais,
ouvia-se o grito selvagem:
...uirerê! ...uirerê! ...uirerê!...

E era uma vez em Goiás
um soldado de guarda,
civilizado carajá!

(Cora Coralina)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dos pequenos cacos...



Calidoscópio. [De cal(i)- + -ido- + -scop- + -io².] S. m. 1. Pequeno instrumento cilíndrico, em cujo fundo há fragmentos móveis de vidro colorido, os quais, ao refletirem-se sobre um jogo de espelhos angulares dispostos longitudinalmente, produzem um número infinito de combinações de imagens de cores variegadas. 2. Fig. Sucessão rápida e cambiante (de impressões, de sensações): A nossa viagem foi um calidoscópio. [Ê m. us. A f. caleidoscópio.]

Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa
2ª edição, 19ª impressão
1986

Seu coração foi partido?
Sua alma aquebrantada?
Seu ser dividido?

Sempre dá pra criar algo novo e belo dos despojos (a reciclagem está aí pra isso).

Hasta!

How POP works...

Passado o VMA - que eu não consegui acompanhar - e a cobertura via Twitter (valew, gente... afinal quem precisa de TV hoje em dia?), não há mais qualquer coisa a ser dita...



Ou pelo menos qualquer coisa que já não tenha sido dita antes.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Jeitinho brasiliense...

♫ “Brasília, a terra do carão...” ♪

Assim dizia uma música que ouvi a alguns anos num CD promocional do Paroutudo.com que o Devs ganhou de alguém, e que o mesmo fazia questão de ressaltar sempre que incomodado com o “jeitinho brasiliense” de ser (ou seja, diariamente). Implicância ou não, ele não é o primeiro (e algo me diz que não será o último) a me reclamar da postura fria e posuda dos cidadãos da capital... e o pior é que sou forçado a concordar com ele.

Qualquer um que viaje ocasionalmente por aí deve notar que – em relação aos brasilienses – as pessoas de outros estados são mais simpáticas e receptivas a conhecer gente nova (ou, pelo menos, assim demonstram); não se esforçam (tanto) em manter uma pose ou em simular possuir um “status”, mas por que essa diferença?

Há quem culpe o fato de se tratar de uma cidade planejada: nascida pronta há 50 anos, sem ter tido tempo, ainda, de desenvolver uma “alma” própria ou um senso de comunidade em seus cidadãos; e há quem atribua a situação, também, ao fato de que a cidade já nasceu destinada à elite do Governo (governantes, funcionários públicos, burocratas e afins), já devidamente separados e organizados por setores da cidade. Independentemente da razão, o fato é que muitas vezes pego várias pessoas (e, pra minha vergonha, eu mesmo) assimilando essa postura seca (sem trocadilhos com o clima daqui, embora seja quase impossível não associá-lo) e, verdade seja dita, é um tanto constrangedor se dar conta disso.

Tento romper, todos os dias, esse estereótipo; essa distância segura (como alguns preferem definir) que os brasilienses parecem naturalmente – e culturalmente – ter, mas quão difícil é vencer um hábito carregado desde o nascimento! Mesmo assim é sempre bom (e sensato) ter consciência de que hábitos podem ser mudados e que – no final das contas – pessoas definitivamente não são ilhas.

(frases feitas, sim, mas nem por isso menos verdadeiras)

Hasta!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mãos






Reiterando uma idéia que já joguei aqui certa vez e que retomei essa semana...

"Às vezes, as coisas mais simples conseguem ser as mais fantásticas."