E se passaram as eleições. Dentre as dezenas de cobranças (“Em quem você votou?”) , restrições (de beber, inclusive) e obrigações, impossível não questionar o sentido disso tudo. Pra que votar? Ou melhor, por que a gente é
obrigado a votar?
Dada toda a miríade de reluzentes (e
competentíssimos) candidatos é compreensível e aceitável (apesar das
disposições em contrário) que o cidadão não tenha qualquer vontade de votar. Tudo bem. Eu mesmo não quis votar (ainda acho que o voto é o combustível da máquina eleitoral/interesseira; que, por sua vez, pra tudo o mais funciona sozinha e descontrolada), mas fui obrigado. Por que "obrigado"? Quantas outras pessoas não quiseram votar, mas tiveram que fazê-lo a contragosto? Pior: quantas – só para fazê-lo (por fazer) – acabaram votando em candidatos
aleatórios, ignorando, assim, o valor de seu voto?
Há quem justifique dizendo que, no Brasil, se não houvesse a obrigatoriedade do voto, ninguém votaria. Dá pra culpar esse povo? Ora, se os cidadãos são obrigados a manter (de mau grado) um sistema, há algo de errado, não? O mesmo dizem sobre o serviço militar (masculino); quando não justificam (a ambos) com o já clássico “sempre foi assim”.
Sempre foi assim... adoro essa frase.
Se pararmos pra pensar, tem muitas coisas nas quais não acreditamos/nos são inúteis, mas que fazemos por pura repetição: além dos “deveres cívicos” já citados, o que mais fazemos? Chamar qualquer autoridade e/ou transeunte vestido de branco de
“doutor”? Tomar a benção quando não se é mais cristão? Acreditar em algo somente quando aparece na TV? Reclamar do tempo? Embarcar na primeira fila que se vê? Em maior ou menor escala, os exemplos são vários, mas a razão é uma só: por vezes nos comportamos como maquininhas condicionadas e repetitivas. Lei do menor esforço? Talvez até seja, mas não vem ao caso tratar disso agora (ou até venha, mas acho que já estou dando voltas demais)...
É tão difícil assim questionar?